Fé que floresce

O conceito de “demissão silenciosa” tem se espalhado como fogo, sinalizando que trabalhadores ao redor do mundo estão buscando uma maneira de encontrar equilíbrio e sanidade em meio ao estresse e à pressão. No entanto, essa busca por paz não se limita ao mundo corporativo. Na igreja, 42% dos pastores já cogitaram deixar o ministério devido ao estresse, solidão e tensão política. A discussão sobre saúde mental, a complexidade das questões culturais e o ruído da discórdia social tornam-se cada vez mais urgentes.

Onde, então, os crentes podem buscar restauração e renovo? Uma resposta improvável pode ser encontrada em uma prática antiga: a pesca. Não no sentido literal, mas numa metáfora teológica que nos leva ao profeta Ezequiel.

Durante um dos períodos mais sombrios da história de Israel, o exílio babilônico, Ezequiel recebeu uma visão de esperança. Os israelitas, que haviam experimentado o auge da Terra Prometida, agora estavam destroçados pela destruição e pelo exílio. O pacto com Deus havia sido violado e, como resultado, a nação enfrentava as consequências severas de sua desobediência.

No meio dessa devastação, Deus deu a Ezequiel uma visão do futuro. No capítulo 47, um anjo leva Ezequiel para ver um novo templo em Jerusalém, do qual um pequeno fio de água escorre. Este fio cresce, primeiro até os tornozelos, depois até os joelhos e cintura, até se transformar em um rio poderoso. Este rio desce pelo deserto árido e finalmente deságua no Mar Morto, onde tudo se transforma. Aquele local de morte e desolação se torna cheio de vida, com peixes, árvores frutíferas e folhagens exuberantes, todas representando cura e renascimento.

A visão de Ezequiel é uma promessa de que Deus pode trazer uma nova criação mesmo em meio ao caos do exílio. Ela nos mostra que, mesmo quando nos sentimos perdidos e abandonados, há uma fonte de cura e redenção fluindo. Esta mensagem é um convite para navegar neste rio de graça, não importando o quão raso ou profundo ele possa parecer no momento. Embora a nossa “demissão silenciosa” possa ser um ato de resistência ao estresse, é também uma oportunidade de descobrir um lugar de cura.

Em tempos de desânimo, podemos ser tentados a nos entregar ao desespero ou a canalizar nossa frustração para os outros. Mas a visão de Ezequiel nos convida a seguir o rio da vida, acreditando que, mesmo que a jornada comece com águas rasas, o poder transformador da graça de Deus pode criar um mundo renovado. Com humildade e fé, podemos ser parte desta transformação, trazendo cura e esperança para os lugares mais desolados de nossas vidas e comunidades.